Monday, May 26, 2008

Jojo’s article about my collages

Last week my friend Joana Coccarelli interviewed me about my collages.
It just went online in the O Grito Magazine (in portuguese). Enjoy:

Joana Coccarelli: A arte-colagem de Iuri Kothe
[link to O Grito!'s post]

O corte da tesoura no papel da revista: prazer próximo à crocância palatável. Colagem, a princípio uma atividade tão jardim da infância, é na verdade uma técnica criada na China em 200 A.C. Chegou ao Ocidente no século XIII; passou a fazer parte definitiva das artes visuais no começo do século XX, com Picasso e Georges Braque; e mais recentemente, no final dos anos 70, entrou para o offstream ao ser abraçado pelo punk.

Para mim começou na pré-adolescência, quando eu mutilava Elles de mamãe atrás de imagens que pudessem ilustrar os fatos pueris que eu relatava na minha agenda (o blog de então). Após um largo hiato, comecei a criar situações com fotografias de amigos e pendurá-las na minha própria casa. E, então, houve a retumbância da arte-colagem perfeita: uma visita ao apartamento de um amigo me fez plasmar diante de cada uma de suas colagens, emolduradas por toda parte. “Preciso levar essa“, pensei. Hoje, “Ilha de Lesbos” é o eixo de meu muro de colagens - a relíquia, a peça primordial.

Iuri Kothe, o amigo artista, teve um começo casual, uma trajetória recente e uma evolução muito rápida - mas não a ponto de obscurecer suas primeiras colagens, já que seu avançado olhar estético sempre esteve ali, desde o princípio. A primeira peça, feita em 2003, aproveitou recortes usados para decorar uma festa e já continha a alfinetada ardida e a surpresa imagética que tornaria os trabalhos seguintes tão especificamente seus.

Iuri tira recortes quase que exclusivamente de National Geographic. O fato em si representaria uma limitação crassa ao artista comum, mas praticamente define o conjunto da obra do artista, seletíssimo. Seu interesse recai basicamente em pessoas, animais e paisagens, e em criar uma relação entre eles. “Muita gente simplesmente cola as imagens sem visualizar uma possível ligação entre elas”, diz Iuri. “É difícil fazer uma boa colagem sem que o artista tenha interiorizado aqueles elementos. Perde-se uma dinâmica que poderia ter sido inventada”.

Essa é a questão com as encomendas. Aconteceu de Iuri receber o pedido de um americano. A colagem precisava ter a ver com baseball, o cara mandou três caixas de revistas sobre o tema. “Provavelmente tenho mais revistas sobre baseball do que qualquer aficcionado brasileiro, mas foi difícil montar porque não tenho nenhuma experiência com o esporte”.

Com mais de 100 obras realizadas, grande parte delas “espalhadas por aí”, entre amigos e conhecidos, Iuri deixa escapar alguma saudade dos tempos em que sua técnica se limitava às revistas, tesoura, cola e papel cartão – estágio em que me encontro hoje. Com o passar do tempo, começou a usar computador para acertar dimensões e detalhes da montagem que ia fazer no papel; e logo entraria, também, pra turma das colagens digitais.

Em seu gordo networking, encontrei artistas puramente photoshops, com trabalhos magníficos, “mas não sei… fica tão parecido com pintura surrealista… perde aquela textura original de colagem”, argumentei. “Perde aquele tosco, né? Fica menos realista”, concorda ele. O contorno do recorte, o brilho do papel-revista, as pequenas imperfeições da cola entregam: um artista meteu o mãozão aqui. Na paixão e no risco, sem intermediários.

O que não significa que colagem digital seja menos arte. Talvez seja apenas mais recorrente na era da internet. “Dubroko 3”, realizada por Iuri mais outros dois de seus contatos virtuais, é totalmente eletrônica – e de cair o queixo. Cada um aplicava uma imagem e enviava para o outro, que não só aplicava sua imagem como eventualmente alterava as dos demais. Nesta animação, feita pelo próprio Iuri, tem-se uma idéia de como a peça foi feita.

Ainda assim, ele prefere a presença de espírito do artesanal, do feito à mão: o desafio de contar apenas com o que se tem, do tamanho que é, sem efeito especial, sem visualizações prévias. Também passou a preferir menos elementos. Sem dúvida, é bem mais viajante. Não só porque a integração de sujeitos se destaca como também as paisagens em segundo plano, que dão uma profundidade impressionante à cena.

Para realizar o desejo de fazer uma enorme colagem analógica, no entanto, ele talvez tenha que juntar mais imagens do que gostaria: mesmo páginas inteiras de revistas são relativamente pequenas para uma área mais extensa. Seria preciso um pouco de tecnologia – escanear as fotos e imprimi-las grande, por exemplo – e muito mais… cola.

Porque de resto Iuri tem muito. Até senso de humor para rir quando eu o chamo de avatar.

Joana Coccarelli é jornalista, autora do blog Narghee-La e idealizadora do Coccarelli.art, coletivo de artistas, blogueiros e escritores. Escreve nesta coluna sobre estética, design e moda.joana@revistaogrito.com.